Façamos um contraponto ao que disse o Morillo Carvalho na última edição desta MeiaUm: o que todo mundo diz é que nunca aproveitamos as belezas da nossa cidade: quem mora na praia raramente põe o pé na areia. Os cariocas não vão ao Corcovado. Os belo-horizontinos não admiram a Pampulha. Aqui em Brasília, a nossa ausência de admiração é para com a Esplanada, a Praça dos Três Poderes, o lago, a Ermida, a vista da Torre de TV.
Mas há uma coisa que acontece na cidade que não tem como passar em branco. Quer dizer, passa em branco, sim, mas só mais para o final do ano. Antes disso, passa em rosa e roxo e depois passa em amarelo. É admirável. É lindo. É vivo. É natural. Começou em julho e, a cada dia, vai nos surpreendendo pela cidade: a floração dos ipês.
Você pode andar diariamente pela Esplanada dos Ministérios e não mais se encantar com a suntuosidade arquitetônica dos palácios e do Congresso Nacional. Você pode pegar seu ônibus na plataforma superior da rodoviária e ignorar solenemente a vista, o Teatro Nacional e o movimento das pessoas. Mas ninguém passa incólume ao colorido dos ipês.
Acho até que Renato Russo pensou, inicialmente, em falar dos coloridos dos ipês em vez de “luzes de Natal” na letra de faroeste Caboclo. Mas acho que não ia rimar e ele deve ter desistido. O fato é que a festa da paleta de cores da natureza é pura atração para os olhos. É alegria para a íris e música para a retina. As cores vivas se sobrepõem ao marrom da poeira do cerrado.
Tenho certeza que você já viu algum ipê rosado florido por esses dias. Ou um amarelo. Ao longo do Eixão eles já começam a tomar conta da paisagem. Se não viu, saia e vá ler esta revista lá fora, na sombra de uma árvore. E aproveite para colorir sua vida.
*Texto originalmente publicado na Revista MeiaUm