Ontem, 07 de julho, tive a oportunidade de ir conferir a estréia do projeto Escritores Brasileiros, no CCBB. Basicamente, é um projeto que estimula a leitura por meio de palestras em que um ator convidado interpreta trechos de textos de um grande escritor da literatura brasileira da atualidade. Na abertura do projeto, a escritora convidada era a gaúcha Martha Medeiros, lida pela atriz Cássia Kiss.
E Martha Medeiros é realmente muito boa! Já a conhecia pelos seus livros e crônicas, mas vê-la, ao vivo, falando sobre sua vida, como começou a escrever, suas influências é ainda mais legal. E fica muito melhor quando uma atriz do quilate da Cássia Kiss faz a leitura dos textos. Mas, pra mim, o que importa mesmo é a sensibilidade e capacidade de falar sobre as coisas mais simples e os sentimentos mais complexos que Martha tem.
E a razão disso, segundo ela é a forma “umbilical” que ela diz colocar no seu texto. Tudo é muito intenso, muito vivo, muito sentido. Não tem 3ª pessoa. É sempre a primeira. Ela diz escrever sobre suas próprias dúvidas. “Escrevo para responder meus próprios questionamentos. Escrevo para mim mesma”, diz Martha.
Uma dessas respostas ela se deu na crônica Doidas e Santas, que intitula seu último livro. Partindo de um trecho de um poema de Adélia Prado, Martha conta, de forma muito divertida, que nenhuma mulher é santa. “Existe mulher cansada, que é outra coisa. Ela deu tanto azar em suas relações que desanimou. Ela ficou tão sem dinheiro de uns tempos pra cá, que deixou de ter vaidade. Ela perdeu tanto a fé em dias melhores, que passou a se contentar com dias medíocres. Guardou sua loucura em alguma gaveta e nem lembra mais.” E ela mesma assume que é doida, que tem defeitos, que pensa em coisas insanas. Principalmente sobre relacionamentos.
“É entender que com possessão não se chegará muito longe. É amar o outro nas suas fragilidades e incertezas. É aceitar que uma união é para trazer alegria e cumplicidade, e não sufocamento e repressão”, diz Martha Medeiros na crônica Casamento Aberto, de 16 de outubro de 2005. Uma reflexão sobre as mudanças do mundo e as formas como os relacionamentos são construídos na modernidade. Para a autora, o segredo para viver bem no mundo atual está no fio condutor que ela diz ter ao escrever suas crônicas: não levar tudo tão a sério, viver com mais leveza, assumir suas responsabilidades e ter muito bom humor. “Não temos controle sobre nada nessa vida. Por que nos preocuparmos com coisas tão bobas. Vamos viver e deixar que as coisas aconteçam”, diz.
Mais do que falar dela, acho que o importante é ler o que ela tem a nos dizer. São 18 livros publicados entre poesias, crônicas e romances. Doidas e Santas traz uma coletânea de crônicas publicadas entre 2005 e 2008. Muita coisa boa e algumas nem tanto, mas que sempre valem a leitura, afinal, cada um é tocado de uma forma diferente pelo que ela relata. O próximo livro, intitulado Fora de Mim, tem previsão de lançamento em outubro. É uma nova ficção, um monólogo feminino sobre a dor de amor. Aguardem, comprem, leiam, prestigiem. Eu vou garantir o meu.
PS: A programação do Escritores Brasileiros promete trazer Luís Fernando Veríssimo no dia 11 de agosto. Fiquem alertas!
*Texto também publicado no
Drops Culturais