Dia desses, cozinhando, me deparei com minha frigideira preferida sem cabo. Na hora me veio à lembrança aquele velho que passava pela quadra empurrando um carrinho (e anos depois dirigindo uma Kombi velha) e gritando: “Conserta panela, amola faca, facão, alicate!”
Por onde anda esse cara? Há anos não ouço esse grito. Nem o tio do quebra-queixo - aquela iguaria de coco - que passava balançando o sininho e, em plenos pulmões, gritava: “Quebra-queeeiixooooooooo!" E eu enlouquecia pedindo dinheiro à minha mãe a tempo de descer e alcançá-lo antes que sumisse. Bateu uma saudade de quando Brasília era uma cidade do interior.
Sumiu também o vendedor de alho que passava a tarde gritando: “Vai passando o aaaalhoooooo!” E a molecada, brincando debaixo dos blocos, respondia: “Troco pela cabeça do meu *ar@lhooooo!” Lá de longe ele nos envergava o dedo médio e todos riam.
O caminhão de gás ainda passa, mas não grita mais, nem toca interfone. Eles entraram em acordo com a prefeitura para evitar o distúrbio aos moradores. Agora, quem quer gás avisa ao porteiro e ele se encarrega de avisar aos vendedores. Tudo muito discreto e sem gritos.
Cadê essa Brasília interiorana? Foi substituída pela capital dos mais de um milhão de carros. Foi trocada pela cidade violenta, onde a molecada não brinca mais nos pilotis dos prédios das entrequadras do plano. Hoje, restou apenas o carro da pamonha que toca música gospel entre um anúncio e outro de “pamonha de sal com queijo, de doce com queijo, com queijo e linguiça...” Bateu saudades da minha infância. Tudo por conta de um ovo mexido.
*texto originalmente publicado na edição nº 4 da Revista Meia Um
7 comentários:
Aqui o moço da pamonha ainda passa gritando e puxando o seu isopor "oooolha a pamooonhaaaaa", e o amolador também, com aquele apito... mas é só.
Também sinto saudade da "Brasília de interior"...
Gosto de ler lembranças. De lembrar das mudanças da minha cidade.
abraço
Por aqui é a mesma coisa....
agora essa do "passando o alho" eu nunca ouvi, hahahahahah!
Lá na quadra da minha mãe a moça da pamonha grita: "pamoooooooooooooooonha quentiiiiiiiiiiiiinha, pamooooooooonha quentiiiiiiiiiiinha"
Anônimo não, fui EU!!! Iêda
Na quadra da minha irmã até hoje passa um cara vestido de palhaço que vende algodão doce gritando "Mina, seus cabelo é da hora!!! EEeeeeoooo eeeeoooo o palhaço é um terror!! Querida, cheguei!!!"
E tu nada preocupado com o colesterol do ovo mexido...
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