quinta-feira, 12 de março de 2009

Mundo Real X Igreja- Parte 2

Dias atrás escrevi aqui sobre o que eu achava da história da excomunhão dos médicos que realizaram o aborto e parentes da menina de 9 anos estuprada em Recife.

Mantenho minha opinião e aceito a opinião do Lucas, meu concunhado (existe essa relação de parentesco?), que defende os ideais da igreja. Acho até que o arcebispo foi totalmente coerente dentro do pensamento que ele defende. Mas o que me incomoda é esse pensamento.

Para ilustrar bem o que eu penso, minha irmã querida mandou um texto da Martha Medeiros (excelente escritora!) que segue a mesma linha que eu (na iidéia, não na escrita. Afinal, ela é A Martha Medeiros). Leiam abaixo:

Liberdade individual
Martha Medeiros
Nos últimos dias soubemos que uma menina britânica de dois anos, que nasceu cega em função de uma deficiência rara, recuperou parcialmente a visão depois de um tratamento que utiliza células-tronco retiradas do cordão umbilical e injetadas na corrente sanguínea. O nome da garota é Dakota Clarke e ela já consegue ver cores e o contorno dos objetos a sua volta.

Não por acaso, anteontem Barack Obama autorizou o uso de verbas federais para pesquisas com células-tronco (que estava banido desde 1991 por, ora quem, George Bush). Prevê-se que em breve o Congresso americano suspenderá outra proibição, que é o de gastar dinheiro de impostos para criar embriões.

Obama é um homem religioso, porém não permite que suas crenças impeçam o desenvolvimento científico, que pode beneficiar tantas pessoas, como já beneficiou Dakota. Mas a Igreja não tem a mesma flexibilidade. Considera que utilizar células-tronco de embriões descartados para fertilização é, ainda assim, negar o direito à vida. Pergunto: a vida de quem? De alguém que nunca existirá?

A Igreja Católica não quer e nem deve mudar radicalmente, mas se o seu conceito básico segue sendo o amor, então em nome desse amor deveria haver uma mínima atualização, para que pessoas como eu e talvez você, que fomos criados dentro do catolicismo, não nos sintamos tão distanciados dessa religião que não permite que a sociedade avance, e claro que trago esse assunto à baila motivada também pelo estúpido anúncio da excomunhão dos envolvidos no aborto da menina de 9 anos que foi estuprada pelo padrasto. O arcebispo de Olinda marcou um golaço para o time dos alienados e ignorantes. Por essas e outras, hoje rezo para um Deus particular, sem intermediários, porque não posso compactuar com a obtusidade dos representantes Dele na terra (não todos: no Rio, um padre foi aplaudido de pé durante a missa, por ter se posicionado contra esse caso de excomunhão, provando que é possível vivenciar a fé e manter os neurônios funcionando ao mesmo tempo).

Poucos meses atrás, li o livro Carta a uma nação cristã, de Sam Harris. O autor, numa linguagem muito coloquial, questiona até que ponto essa ilusão coletiva entorpece as mentes e desvirtua uma espiritualidade que deveria ser canalizada apenas para o bem, mas que, ao contrário, provoca guerras e mata, como mataria essa criança pernambucana de 9 anos, caso a gestação fosse levada até o fim.

De qualquer forma, vale a discussão. São esses debates sobre ideias antagônicas que fazem a sociedade evoluir – ou empacar. Só me resta torcer para que um dia possamos chegar perto de uma utopia chamada liberdade individual: quem for contra o aborto ou contra a utilização de células-tronco, que não utilize nenhum desses recursos (sinuca: os médicos devem cruzar os braços diante dos crentes?) E quem for a favor, que usufrua seu direito de agir como acha que deve. Sem interferência política ou religiosa.

4 comentários:

Anônimo disse...

Bom, já que vc citou meu nome, deixa eu colocar algumas coisas:
Quanto a celular embrionárias: A celula que foi usada no tratamento da menina de 2 anos não é embrionária, ou seja, não foi tirada de um embrião. É sim, célula tronco. Aliás, muitos ricos estão mandando congelar e guardar o cordão umbilical para qualquer eventualidade. A igreja jamais condenaria isso. A propria Inglaterra já parou de patrocinar pesquisas com celulas embrionárias pois chegou a conclusão que não terá resultado algum, por motivos biológicos mesmo.
A igreja não é contra a ciencia. ao contrário. Sabe quem criou o modelo universitário de ensino? A igreja. Sabe quem tem mais hospitais e nesses hospitais, pesquisas? A igreja. A igreja é muito a favor de toda pesquisa que venha favorecer a vida. Se é contra pesquisas com celulas embrionárias, é porque, em sua concepção, estudo e conhecimento, não se pode matar uma vida, e, biologicamente (há correntes que são contra isso, e outras a favor) a vida começa na concepção. Se nem os cientistas conseguem dizer quando a vida começa, vamos trabalhar com o mais "pessimista" ou "otimista" (dependendo da pessoa), que começa na concepção. Concordo que cada um tenha sua liberdade, mas a igreja Católica não vai ser uma para cada um. Se a pessoa que foi excomungada não gosta da igreja,pq está preocupada com isso? Se for católico, tem que ser formado.
Ultimo ponto é sobre o padre que foi contra a excomunhão. Se ele estudar um pouco o direito caninico, verá que essa é a igreja que ele, livremente, escolher ser. Como padre, ele não deveria discordar. Mas a igreja está, claramente, com dificuldades de formar bons padres. A opinião do padre nunca é maior do que a da igreja. Aos fieis que aplaudiram,lembrem-se disso.
Abraço concunhado!!!! Depois me manda seu e-mail para eu te mandar um texto da igreja falando disso. Pq soh sai na midia falando a outra visão, e como sabemos, poucos jornalistas se preocupam em ver o que a igreja acha. Isso pode esclarecer um pouco

Madame Mim disse...

Tu viu hoje que a Igreja retirou a tal excomunhão?
Falaram que foi um erro do Bispo, que ele quis dizer que seria um ato passível de excomunhão, não que fosse sser realizada.

Bom, de qq modo, o debate é válido.
Não tenho nada contra a Igreja Católica, pelo contrário, até gosto (apesar de não ter religião fixa)...mas não gosto do radicalismo de alguns membros da Igreja Católica, os quais, no meu ver, desvirtuam totalmente a proposta inicial.

Bjo

Paulinho Mesquita disse...

me manda o texto!
plmesquita@gmail.com

Anônimo disse...

Na verdade, impossivel tirar a ex comunhão, a nao ser que se arrempendam e se confessem. O ato do aborto em si jáleva, automaticamente, a ex comunhão...