segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Cena

Eu já falei por aqui que tenho vontade de ser ator de cinema. Hoje pensei numa outra cena que faria. Coisas da minha cabeça...

Nessa, o cara seria um jornalista fodão (não é uma cena autobiográfica), mas que um dia, como toda pessoa que é grande, foi uma jornalistazinho, bem foca (para quem não sabe, foca é o termo usado no jornalismo para repórteres inexperientes), um nada que trabalhava em uma grande emissora de rádio. Afinal, como meu pai já me disse algumas vezes, a única coisa que começa por cima é buraco. O resto todo começa por baixo.

Nessa época em que era um foca, esse jornalista - vou dar um nome agora para ele: Ricardo Paz - tinha um grande amor. Essa mulher - vamos chamá-la de Maria Clara - gostava dele, mas era ambiciosa e pensava muito em dinheiro. Como ela acreditava que o Ricardo não tinha muito futuro, largou dele para ir atrás de um homem com maior poder aquisitivo.

Depois que eles terminaram, passaram seis anos sem se ver. Nesse período Ricardo deixou de ser foca, ganhou experiência como repórter, virou editor, chefe de reportagem, chefe de redação e hoje era o diretor de jornalismo da emissora de rádio. Mas como tinha aquele faro de repórter, Ricardo nunca abandonara o trabalho e sempre fazia matérias especiais.

Na noite em que se reencontram, Ricardo e Maria Clara estão em uma festa de premiação dos melhores jornalistas do ano. E aí, segue-se o diálogo.

- Maria Clara?
- Ricardo! Nossa, quanto tempo não te vejo e nem tenho notícias de você. Nunca mais nem te ouvi no rádio... Se bem que eu nunca mais ouvi rádio. Só ouvia quando a gente namorava pra não ficar boiando quando você vinha me contar aquelas chatices de pautas e coisas jornalísticas que tinha feito durante o dia. Saiu da rádio?
- Não, continuo lá.
- Ah, e aposto que alguém de lá não podia vir, aí você implorou o convite e veio pra festa né? Você não perde um rega-bofe!
- Na verdade eu recebi um convite em meu nome e vim. E você, faz o que aqui?
- Meu noivo é um dos patrocinadores da festa.
- Então você finalmente achou o homem rico que você queria para casar, hein?
- Pois é! O amor, e o dinheiro (falando baixinho), me pegaram de vez. Você ainda continua fazendo aquelas reportagenzinhas de trânsito, engarrafamento, buraco na rua...??
- Não. Deixei de ser repórter de cidades. Passei a editor, chefe de reportagem, chefe de redação. Hoje sou diretor nacional de jornalismo da emissora.
- Huuummm! Que chique. Pra quem não dava nada por você, até que foi longe né? Ta ganhando bem?
- O suficiente.
- O suficiente quanto?
- Lembra quando a gente namorava? Eu era recém formado, ganhava pouco mais de mil reais e dizia que iria te pedir em casamento...
- Sim! Você sonhava com isso e eu dizia que você só poderia me pedir em casamento quando ganhasse, no mínimo, uns oito mil reais... que nem meu noivo ganha hoje.
- Pois é. Digamos que hoje eu poderia te pedir em casamento umas três vezes, sem o menor problema.

Chamamos ao palco o vencedor da categoria Melhor Reportagem de Rádio, Ricardo Paz, que leva para casa o prêmio de quatro mil reais

- Com licença, preciso ir receber meu prêmio. É meio pedido de casamento, não dá para jogar fora. Boa noite.

E ela fica com a taça de champagne na mão, observando ele ser premiado.

2 comentários:

Karine Leão disse...

Paulo,

Muito gostoso te ler. A única coisa que começa por cima é buraco. E aprender, claro!

Beijos!

Vi disse...

Adoooro as voltas que o mundo dá... Mas com essa capacidade toda pra escrever vc tá mais pra roteirista do que pra ator, hein???