A primeira coisa a se destacar é a expressão “pronto”. Isso, lá pelo nordeste é usado como o “véi” aqui em Brasília, o “daí” no Paraná e o “bah” no Rio Grande do Sul. Basicamente uma vírgula. É normal rolar um diálogo do tipo:
Eu: Você pode me informar como chego na praia de Cabo Branco?
Nativo: Pronto. Pega aqui a beira-mar, segue reto. Sabe onde fica o Hotel Tambaú?
Eu: Sei sim.
Nativo: Pronto. Do Tambaú você vai dobrar, pegar a paralela...
Ou algo do tipo:
Eu: Esse peixe a Zé do Pipo vem com que acompanhamentos?
Garçom: Pronto. Vem com arroz e salada.
Eu: Dá pra dois?
Garçom: Pronto. Dá sim.
Eu: Então me vê um desse e uma cerveja.
Garçom: Pronto. Dois copos?
Em tudo lá eles usam o “pronto”. Chega a ser divertido algumas situações. Eu contei um garçom que falou 6 “pronto” enquanto anotava nosso pedido.
Pronto. Chega de falar disso e vamos à viagem. Nossa chegada foi um tanto conturbada. Inicialmente ficaríamos hospedados em Lucena, um município próximo à João Pessoa. Porém, quando chegamos lá não nos agradamos muito do local e acabamos indo para JP. O problema foi que nessa de chegar, conhecer, não gostar, resolver mudar e arrumar um novo lugar perdemos praticamente dois dias úteis de praia.
Problema resolvido, nos hospedamos em um flat à beira-mar na praia de Manaíra. O local não era muito movimentado, o que achei bom, mas era perto do movimento da feirinha de artesanato de Tambaú. Na real, estávamos no centro de tudo. Do nosso flat pro Hotel Tambaú (uma referência de localização na cidade) dava uns 5 minutos caminhando. Então era pertinho pra ir pras outras praias também.
Depois de reconhecer a área fomos ao nosso primeiro passeio, o pôr do sol na Praia do Jacaré, em Cabedelo, outro município colado à João Pessoa. A praia é de Rio, o Paraíba, que nasce e morre no estado, segundo o guia do passeio. “O único no Brasil a nascer e morrer no mesmo estado”, disse ele. Mas não tenho certeza disso. A área é repleta de mangues preservados e algumas ilhas.
Mas o que vale a pena mesmo é o famoso pôr do sol ao som do Bolero de Ravel, tocado pelo saxofonista Jurandir. A lenda é que uma antiga francesa que habitava a beira do rio Paraíba criou o hábito de assistir o poente diariamente ao som do bolero e tomando vinho. Quando seu marido teve de voltar para a França, ela o acompanhou e desde então o Jurandir passou a manter o ritual. Diariamente, faça chuva ou faça sol ele entra na canoa e toca o bolero pra galera.
O cara está no guiness book como a pessoa que mais tocou a melodia no mundo. Já são mais de 3000 execuções. Por que o Bolero de Ravel? Porque ele dura os mesmos 17 minutos que o sol leva para se esconder.
Fraco esse pôr do sol, né?
Quem vai até lá tem três opções para assistir ao espetáculo. A primeira é sentar-se em um dos bares que ficam na beira do rio – e aí é preciso chegar cedo para pegar um bom lugar. Os bares cobram um couvert artístico na média de R$ 5,00. A segunda – que foi minha escolha – é pagar R$ 20,00 e entrar no catamarã. No barco você dá uma volta pelo Paraíba, tem a companhia de um guia que fala sobre história, geografia, hidrografia e curiosidades do estado e da cidade e ainda fica bem do lado do Jurandir na hora da música.
Taí o Jurandir do Sax na canoa
No vídeo abaixo dá pra ver o fim do show do Jurandir. Ele estava bem ao lado do nosso barco. O vento atrapalha um pouco a captação do som, mas dá pra ter uma idéia do tanto de gente que se junta lá para assistir.
Outro passeio bacana que fizemos foi o da Areia Vermelha. São umas ilhas que se formam a uns 800 metros da praia, de acordo com a baixa da maré. Embarcamos num barco (R$ 10 por pessoa) na praia do Poço (cerca de 20 minutos de onde estávamos) e em 15 minutos chegamos às ilhas de areia avermelhada – que eu nem achei tão avermelhada assim. O bacana de lá é a estrutura que montam para atender o público. Barcos-bares ancoram perto da areia e servem todo tipo de petiscos, pratos e bebidas. Em pouco tempo a ilha fica cercada de lanchas, jets e barcos.
Aquilo ao fundo são os barcos, lanchas, jets ancorados na ilha
A água é cristalina e muito rasa. Se você der sorte consegue até ver alguns peixes. Nós fomos brindados com a visita de um cardume de bagres. Bacana de ver, mas triste de constatar que eles aparecem atrás de comida que o povo joga na água. De farofa a restos de peixe. O cardume que vi estava se entupindo de farofa de lingüiça jogada por um grupo que chegou de lancha.
Os bagres e a tia jogando a linguicinha pra eles
A cidade de João Pessoa é bem arrumada, organizada e estruturada. Tem bons hotéis, bons restaurantes e a estrutura das praias urbanas também é muito boa. Entre os restaurantes vale destacar o Mangai, já estabelecido em Brasília, mas muito mais charmoso na capital paraibana. E também o Mango Café. Pequenino, bem decorado, aconchegante e com um excelente cardápio de wraps, saladas e cafés. Comi um cheesecake de goiaba lá que era algo divino. Chega fiquei triste de ter descoberto o local só no último dia.
O restinho do chessecake de goiaba e o chocolate quente
Para mim, que fui acompanhado de namorada, sogra e cunhada ainda rolou outro passeio: feiras de artesanato. Tudo que você imaginar é vendido nessas feiras. Lembrancinhas singelas como chaveiros e ímas de geladeira, camisetas “estive em JP e lembrei de você”, bordados, cerâmicas, doces. Uma infinidade!
Enfim, João Pessoa é uma cidade que ainda fará parte dos meus roteiros. Quem conhece pode perceber que não conheci quase nada do local. Então, fica a dívida para a próxima visita.
3 comentários:
Uma duvida que me rói, tu não é diabetico? Sempre vejo tu comendo doce, rsrsr tipo 1 ou tipo 2?
Caraca!!! Ler você relatando suas viagens me deixa do fascinada ao invejosa. Eu já fui a João Pessoa, já vi esse espetáculo do por do sol, já fui a areia vermelha (que também não achei tão vermelha) e não sei escrever assim.
Vou dá um desconto nessa inveja rsrs porque você é jornalista.
Agora também tirando fotos assim é para me acabar. Ficaram excelentes suas fotos.
Na próxima vez vou ver se faço o passeio de catamarã, nunca fiz, e ficar mais perto do Jurandir, do por do sol.
Gosto na Paraíba de Praia Bela.
abraços
Legal, cara, voce descreveu com riquesa o pouco que viu, mas, da proxima vez que estiver aqui, vai no meu camarim que te passarei a história com maiores detalhes, ta bom?
grande abraço
jurandy do sax
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